Aves no sertão
Jovens empreendedores rurais lucram
com a criação de aves no sertão cearense
Não há dia mais movimentado no terminal rodoviário de Pentecoste -
município que dista 90 km de Fortaleza (CE), do que a segunda-feira. É
quando ônibus, carros, vans e outros transportes coletivos formais e
informais, partem com lotação esgotada com destino à capital cearense.
Os passageiros são, em sua maioria, jovens rurais em busca de trabalho
na “cidade grande”, com esperanças de um futuro mais promissor do que as
possibilidades existentes em sua região.
A frota migratória costumava ser ainda maior no passado. Há 10 anos,
os jovens das comunidades rurais do sertão brasileiro cresciam ouvindo
que as melhores oportunidades para melhorar de vida estavam nas cidades.
Lá seria o lugar dos bons empregos, dos melhores salários, com acesso a
produtos, serviços e tecnologias.
Enquanto o urbano é associado à modernidade e ao progresso, o rural é
entendido como lugar do atraso e da miséria. Assim, desde muito cedo,
os jovens aprendiam, até mesmo na escola, que o melhor caminho era
deixar suas comunidades para tentar a vida nas cidades. Essa é a
trajetória esperada para um jovem de sucesso: deixar a sua comunidade e
conseguir um emprego em uma grande cidade como Fortaleza, Recife,
Salvador, São Paulo ou Rio de Janeiro.
Todavia, no sertão do Ceará, existem muitos jovens que desejam
permanecer em seu torrão de origem. Para isso, mesmo enfrentando muitas
dificuldades, tornam-se jovens empreendedores, criando alternativas e
estratégias para conseguir permanecer no meio rural e com qualidade de
vida.
Exemplo disso é o jovem Alisson Bezerra, de 20 anos, que poderia ter
engrossado as filas do desemprego em Fortaleza e figurar nas
estatísticas de jovens que deixaram o campo em busca de alternativas de
ocupação na cidade. Inicialmente, a falta de interesse pelo meio rural,
aliada à questão da sucessão da terra, seriam motivos fortes para a
evasão. Ao mirar no futuro, no entanto, ele acabou mudando de vida ao
participar do Programa Jovem Empreendedor Rural (PJER) da Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel).
Alisson reside em Várzea Comprida, comunidade rural de Pentecoste, é
filho de agricultores e um jovem nato do campo. Participou do PJER em
2012, onde teve a oportunidade de conhecer vários lugares,
empreendimentos e técnicas que podem ser desenvolvidas no meio rural.
Durante o programa despertou o interesse pela avicultura caipira,
atividade que desenvolve em sua propriedade e que tem gerado renda
suficiente para a sua permanência no meio rural e ajudar nas despesas da
família.
No PJER, Alisson teve a oportunidade de conhecer melhor os caminhos
para se tornar um empreendedor. Aprendeu sobre novas tecnologias e
recebeu informações e apoio para iniciar e desenvolver o seu próprio
empreendimento. Com o seu plano de negócios já elaborado, juntamente
com sua tia Jocileide Firmiano, também jovem participante do Programa,
ele pegou um empréstimo, através do Fundo Veredas (fundo de crédito
exclusivamente para jovens empreendedores rurais, gerido pela Adel),
para colocá-lo em prática. Contou ainda, com o acompanhamento técnico e
orientações da equipe da Adel para vencer os primeiros obstáculos e se
manter no rumo planejado, melhorando cada vez mais as suas práticas de
produção e comercialização.
Inspirado na história de vida do Neto Ribeiro, um jovem dos muitos
que passaram pelo o PJER e que trabalha com produção de aves, Alisson
não mediu esforços para enfrentar os desafios e iniciar o seu
empreendimento. As condições da propriedade familiar de Alisson também
foram muito decisivas para a sua escolha: “Fiz todo um estudo com a
ajuda da Adel, calculei e pesquisei muito sobre a atividade e apostei”,
afirma o jovem.
Como tudo no início não é fácil, Alisson produziu, nos três
primeiros meses, apenas um lote, pois teve problema de mortalidade das
aves. Nos meses seguintes, superou esta dificuldade e começou a fornecer
200 kg de carne mensalmente para o Programa Nacional de Merenda Escolar
(PNAE) e vender diretamente para o consumidor final da sua própria
região. Para atender as demandas, ele produz lotes de 150 animais com
escala mensal e hoje tem um faturamento médio de 2.700 reais ao mês.
Além de possuir um empreendimento rural, o jovem participa da
Associação Comunitária de Várzea Comprida e Parnaíba e da Companhia de
Produção Agrícola de Pentecoste – organização criada por um grupo de
produtores de aves. Alisson, Jocileide e Neto são apenas três exemplos
de muitos outros jovens sertanejos que estão lutando para ter o seu
próprio negócio e desenvolver o seu local de origem.
Para saber mais sobre o PJER, sobre o Fundo Veredas e conhecer outros exemplos de jovens empreendedores rurais acesse www.adel.org.br.