quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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Manoel da Conceição agora é doutor!

Por Barack Fernandes

24/11/2011

Ao som de muitas palmas, o sindicalista Manoel da Conceição recebeu nesta terça-feira, dia 23, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Maranhão, pela sua luta camponesa e pelos direitos humanos no Maranhão.

O presidente da FETAEMA juntamente com representantes de várias entidades sociais estiveram acompanhando a cerimônia. “É realmente emocionante acompanhar um trabalhador rural que muitas vezes colocou a vida em risco por solidariedade ao próximo, receber esta condecoração na Universidade Federal do Maranhão. Agora ele será também conhecido, como doutor Manoel”, afirmou o presidente da FETAEMA, Chico Sales Oliveira.


Após receber o nobre título Doutor Honoris Causa, das mãos do vice reitor da UFMA, professor José Antônio Oliveira, Manoel da Conceição pontuou em seu discurso: “Me sinto feliz, bem, entusiasmado, vocês estão dando a mim um valor alto, aproveito para homenagear aqueles que em nome da justiça, da liberdade, da luta pela terra, deram suas vidas”. Manoel da Conceição encerrou sua fala, enaltecendo o amor ao próximo e união. “Primeira coisa que devemos ter no corpo é o amor, discursar todo mundo faz, mas fazer, agente conto com poucos “gatos pelados”. Nós precisamos que cada um de nós, de onde estivermos, façamos o que podemos fazer , eu chamo isso de auto – empoderamento coletivo no campo e na cidade, temos que acabar o preconceito e seguirmos unidos só assim avançaremos”, encerrou emocionado.

História
Filho de lavradores do vale do rio Itapecuru, Manoel vivenciou experiências que lhe propiciaram uma sólida convicção ética, humanista e socialista, de dedicação à causa dos trabalhadores. A começar, ainda na juventude, pela expulsão de sua família por proprietários rurais, violência presenciada ainda em inúmeros outros massacres; depois, a migração em busca de “terra liberta”; a crença evangélica e o início da militância; o envolvimento com o Movimento de Educação de Base (MEB), ligado à Igreja progressista; o engajamento na Ação Popular (AP) e a luta pelas Reformas de Base; até o golpe de 1964, quando sofreu as primeiras prisões.

Durante a ditadura militar, Mané se dedicou à organização e educação de trabalhadores rurais na região do rio Pindaré em sua luta contra o latifúndio e pela conquista da terra. Foi alvo de violenta repressão da polícia militar do governo José Sarney (1966-70), sendo baleado e preso em julho de 1968, ocasião em que teve parte da perna direita amputada por falta de atendimento médico. Na seqüência, foi preso pela polícia política (1972) e dado como “desaparecido”, quando foi submetido a sessões de interrogatório e tortura, sendo solto graças à intervenção da AP e da Anistia Internacional. Liberdade breve, pois, mais uma vez, os militares o prenderam, desta vez em São Paulo, com mais torturas e sevícias (1975).

Novamente a solidariedade – da Anistia e das Igrejas católica e protestante – conseguiu resgatá-lo das mãos assassinas da ditadura, com o que Manoel partiu para a Suíça (1976), onde permaneceu até a decretação da Lei da Anistia (1979).
No exílio, lançou o livro-denúncia Essa terra é nossa, contando sua história deluta pela reforma agrária e de resistência à ditadura, uma leitura necessária e fundamental para compreender os “anos de chumbo”. Livro que acaba de ser reeditado pela UFMG (com o título: Chão de minha utopia), através do Projeto República, com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A ironia não podia ser mais evidente: o mesmo governo petista que, por um lado, promove o resgate de sua memória e história; por outro, lhe recusa o direito de, aos 75 anos, continuar sendo um militante ativo das lutas sociais e políticas – defendendo a democracia interna do partido e a democratização do Maranhão contra a oligarquia patrimonial e golpista. Que resposta obteve Manoel após lançar duas cartas abertas ao companheiro e presidente Lula?

Esse silêncio, no entanto, inexistia em fevereiro de 1980. Pois, na fundação do Partido dos Trabalhadores se pretendeu vinculá-lo organicamente às diversastradições de luta do povo brasileiro, sendo convidados seis signatários que representavam simbolicamente essas vertentes da esquerda: 1) Mário Pedrosa, escritor, crítico e líder socialista; 2) Manoel da Conceição, líder camponês; 3) Sérgio Buarque de Holanda, historiador; 4) Lélia Abramo, do Sindicato dos Artistas de SP; 5) Moacir Gadoti, que assinou em nome do educador Paulo Freire; e 6) Apolônio de Carvalho, combatente na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa, um dos líderes dos movimentos da resistência popular (Ata da reunião no Colégio Sion – site da Fundação Perseu Abramo).

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