domingo, 20 de junho de 2010

QUILOMBOLAS DE ALCÂNTARA
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Um novo jeito de fazer cinema
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Amy Loren
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Rúbia Karla Oliota *
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Especial para O Alternativo
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A cineasta paulistana Eliane Caffé, reconhecida pela produção do filme “Narradores de Javé”, está em terras maranhenses para desenvolver seu mais novo trabalho, o doc-ficção “O Céu Sem Eternidade”. A diretora chegou a Alcântara em maio desse ano, e pretende terminar as filmagens em três meses, no final de Julho. O enredo do longa-metragem traz o fervoroso conflito de terras vivenciado pelos quilombos do município e a empresa estatal binacional Alcântara Cyclone Space (ACS).
Tomando como pano de fundo as problemáticas desse contexto, o projeto de Eliane Caffé, inicialmente, estaria focado na criação de uma polifonia. Um “diálogo” entre a leitura que os quilombolas (de Trajano, Pepital e Mamuna) e os cientistas da base espacial fazem do céu.
Na prática, a cineasta conta que a realidade produtiva tem sido diferente e que, devido a algumas circunstâncias, ela está tendo que se adaptar: “Ao longo do caminho vamos encontrando resistências, adversidades que precisamos respeitar, no sentido que temos que saber ler para reconfigurar nossa idéia inicial sem perder o interesse”, explica.
O mais interessante da produção é a metodologia inovadora utilizada. A idéia é fazer um filme que seja fruto da experiência coletiva. Ao contrário da produção tradicional, a direção do filme não estará concentrada em Eliane, mas todos aqueles que estão envolvidos plenamente no projeto participarão do núcleo dirigente. A intenção era criar um núcleo de dez pessoas das comunidades, que estariam à frente desta produção, além de cinco estudantes do projeto de extensão de Comunicação Social da UFMA, criado para a oportunidade.
Mudança -Porém, por motivos circunstanciais, esse plano foi se alterando. “Começamos como um grupo, que foi se modificando na prática. Muitas pessoas que se interessaram pelo projeto não puderam se engajar por conta de compromissos diversos”, afirma Eliane Caffé. Somente no final do processo, o grupo que assumiu a condução diária do longa assinará a direção da obra.
A realidade antes imaginada e a realidade hoje vivida obrigam a cineasta a pensar uma nova angulação para o filme: “Cada dia é uma descoberta. Uma coisa interessante que percebi é que há uma diferença entre o grupo coeso das lideranças (Movimentos dos Atingidos pela Base Espacial) e o que encontramos nos povoados. A maneira de enfocar essa luta tem vários níveis.
O desafio é fazer com que esses discursos se cruzem sem cair no jornalismo”, esclarece.
Ao término das filmagens, todo o material coletado se tornará patrimônio para Alcântara. Todas as gravações serão convertidas em acervo disponível para livre exibição, além de aproveitamentos futuros.
Apesar de o filme não ser comercial, seu processo de distribuição pretende alcançar espaço no mundo cinematográfico. Com seu renome internacional, a cineasta Eliane Caffé promete trazer visibilidade à produção maranhense.
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*Rúbia Karla Oliota (rubia_oliota@hotmail.com) e Amy Loren(amylorensc@hotmail.com) são estudantes do curso de Comunicação Social da UFMA (Fonte: Alternativo/JEMA)

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